Saturday night be like

Friozinho. Daqueles perfeitos.

Você deita na rede, vinho em uma mão, celular na outra e no meio de tudo um vazio que não cabe na varanda.

Foi tudo uma grande e imbecil ilusão, desde o início.

Você tem vontade de chorar e as lágrimas não vem. Falta da trilha sonora certa, talvez? Ainda conseguir escrever nesse estágio de embriaguez é uma vitória, você comemora secretamente.

O fato é que o mundo está preocupado com uma pandemia e tudo que você queria era um certo colo pra chorar. Ou descansar. O que viesse primeiro.

Realidade: solidão e um vinho barato, plus todo mundo dormindo, que é o que pessoas responsáveis fazem quando não há mais muito o que fazer.

Voce cansa de esperar em vão pela reciprocidade que sabe que nunca virá.

Dramática, mas é só como você sabe ser.

E amanhã, quando a ressaca passar, tudo segue como se nada tivesse acontecido.

Parece pessimismo mas é só realidade

Depois de um típico banho de sábado em plena terça, como se o mundo não estivesse girando ao contrário dentro da minha cabeça, até dá pra fingir alguma normalidade.

Dá até pra tomar mais uma cinarizina, fingindo que todos os comprimidos do mundo pudessem resolver isso que você chuta pra trás da cômoda, debaixo da cama ou dentro do armário a cada vez que é obrigada a encarar.

Já se vão 16 dias de distanciamento social. 16 dias sem por sequer a mão na maçaneta, que dirá os pés na rua; 16 dias praticamente sem regra pra sono ou refeições.

16 dias de pensamentos quicando pelas paredes do quarto e eventualmente voltando pra dentro de uma cabeça já clinicamente tonta.

Depois de 16 dias iguais, você não vê nada de errado em acordar as cinco da manhã de um delicioso sono de dramin, tampouco se importa se ainda está muito escuro pra escrever sem acender as luzes. Você só precisa tirar da mente esse punhado de palavras que continuam não fazendo muito sentido.

Mentalmente, umas 27 cartas foram escritas pra umas 10 pessoas diferentes. Na prática, uma ou duas vão pro papel ou tela, e um total de zero serão enviadas - e, no fundo, nem dá pra dizer que isso é totalmente ruim.

Ok, quem sabe até poder sair de casa novamente você talvez crie coragem pra passar um dia falando tudo que tem vontade, sem freios, sem medo das consequências. Muito provavelmente sem consequências, aliás. 

Mas pretensiosa, você, hein? Se achando imune assim, querendo soltar o verbo pensando que nada vai mudar. Não acontecer o que você esperava é bem diferente de não haver piora alguma, garota, presta atenção. 

De benéfico pra você, no máximo uma melhora nessa vertigem alucinante. Pros outros, talvez a certeza de que era mesmo melhor se afastar, e que só demorou mais do que devia.
And it's in moments like this
I remember the times you told me
No one's there when you need them

It's when I'm lighting
One cigarette on another
I hear you telling me 
Everything you didn't

And when I see you
Drifting away

And I let you go
I watch you never come
I fall out of love
And heal what you didn't hurt

Você é aquilo que você escolhe

Eu hoje precisava muito falar de raiva e mágoa. Mas agora, depois de conseguir assistir o show de uma banda que significa demais pra mim, eu prefiro falar de amor.

Liguei a televisão e chorei pelas três primeiras músicas. Chorei de mágoa, de incredulidade com a falta de empatia das pessoas; chorei de frustração, inconformada por ainda ser tão ingênua e achar que podia contar com a palavra de alguém como podem contar com a minha; chorei de solidão, me sentindo mais distante que nunca de todes ao redor, desconectada, até.

Mas aí o choro foi transmutando.

Na segunda metade do show, eu não lembrava mais como é não sentir o peito transbordando de amor e admiração por alguém. Então fiz uma prece silenciosa ao universo, agradecendo por sempre ser capaz de recuperar isso, mesmo depois de parecer que já fui longe demais pra achar o caminho de volta.

Como mágica, eu senti os trapos dentro do peito sendo remendados, até me ver sendo quem essencialmente sou, pouco ligando pra reciprocidade ou opinião: só é seu aquilo que você dá. Foi bom lembrar como quando a gente se entrega, tudo ganha a perspectiva certa e se alinha. E flui com bem menos dor.

Sei que virão mais dias de montanha-russa, mas hoje, ao menos até adormecer, vou aproveitar essa sensação de paz comigo mesma, com meus demônios e meus medos, e deixar vibrar o amor que me despertam aqueles e aquelas que surgem quando a gente menos espera, nos salvando com os menores gestos e respostas. 

Eu te amo, mas talvez eu nunca te perdoe

Me assistir em silêncio e à distância encenando o teu replay não vai te redimir de não ter estado ao meu lado quando eu precisei da tua companhia.

No dia que eu me dei conta de que você não me avisou com todas as letras o quanto você já sabia o que me esperava, eu quis te jantar na porrada. Meia hora de soco, com o relógio parado.

Eu neguei até onde pude e é óbvio que você percebeu mais isso antes até de mim mesma, provavelmente, mas — de novo — você naturalmente escolheu não dar a mínima. Porque esse é você, e nada nunca vai mudar isso.

E, por mais que eu te ame, isso foi frio demais, até mesmo pra você.

Agora eu tô aqui, brincando de Bukowski entre garrafas e cigarros, tentando dormir e falhando em ignorar todo o ruído na minha cabeça que mistura tua voz com tudo que eu sei que ouviria de ti caso eu tivesse a coragem pra dizer na tua cara tudo que penso e sinto.
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Tudo seria tão menos indolor se você soubesse brincar de romance russo.

"humanos são complicados,

eles dizem uma coisa querendo dizer outra, e acham que se disserem o que querem dizer algo vai dar errado e a intenção deles não se realiza, é um ciclo vicioso de validação pra falta de sinceridade" (TINDER, Contatinho do, 2019)

Uma pessoa que eu agora nem lembro mais o nome me largou isso também já não lembro por quê/em que contexto, mas foi tão na espinha que precisei anotar.

Porque eu já tive uma meia dúzia de conversas sobre a [particularmente, minha] dificuldade de expressar o que penso/sinto; algumas delas, com quem eu mais queria poder falar tudo abertamente, inclusive. E foi um choque que isso saltasse tanto à percepção de alguém, dada minha fama de sincericida no passado.

Já hoje em dia eu dou voltas e voltas com tudo o que tenho vontade de dizer e acabo sempre escolhendo o silêncio, escolho ficar com a ilusão de ter os motivos certos pra cada palavra dita e, principalmente, pra cada palavra guardada. Se eu não pedi o que queria, me conforto dizendo a mim mesma que foi por isso que não consegui, olha que cômodo.

Mas então é hoje que você solta o verbo, Nayana? Óbvio que eu ainda não vou falar, especialmente aqui, nem 5% do que me anda entalado. Certas ideias estão reservadas a certas pessoas, em seus devidos momentos, distâncias [ou falta dela] e níveis alcoólicos. 

Por hoje, tudo que preciso tirar do peito é que sim, existe um mar aqui dentro, cada vez mais agitado [essa ressaca, no dia que estourar, tem tudo pra ser destruidora - e talvez no bom sentido, até. É essa a ideia, ao menos]. E eu entendi mais uma peça desse quebra-cabeça: não adianta me assegurar que nada vai mudar se eu disser seja lá o que for que imaginam que eu guardo.

O "problema" é justamente esse.

Se fosse pra não mudar nada, não surtir efeito algum, eu já teria falado tudo, óbvio. Então a conclusão, que no fundo não conclui nada, é que essa dança vai continuar enquanto eu não sentir que o que eu tiver pra falar vai surtir o efeito que eu espero. 

As não sei quantas mil palavras que eu já escrevi , em não sei quantos cadernos [alô, Tuyo] só saíram porque o papel eu sei que jamais vai me olhar com cara de pena e se afastar de mim pra não me machucar; só de vez em bem quando eu arrisco algumas pistas pra "sentir a água", mas a cada desabafo pra ninguém, algo novo se encaixa e eu entendo que ainda não é a hora
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Ou, como diz a letra de Solamento:


Se do meu jeito não consegui te alcançar
Agora é aceitar, e me silenciar
E entender que eu não sou pra você.

Dois dias atrás:

Carta escrita; envelope comprado; falta só a coragem, agora.

E eu hoje até voltei pra casa devagar. Diferente de quase todos os outros dias - ou noites, isso sempre acontece com mais força quando dirijo a noite - eu guiava sem sentir a já familiar ânsia de ver o carro desgovernando de repente. Até isso parece que desisti de esperar.

Já vai pra mais de uma semana com antibióticos, e de 10ml em 10ml eles só são capazes de aliviar certas dores até certo ponto; quando a gente vê, está usando o xarope pra engolir o calmante e, pra lavar o gosto de tantos remédios, entorna mais uma cerveja, pois por que não?

Talvez seja melhor assim, com a boca cheia eu não consigo proferir as frases de efeito que não afetam ninguém.

Porque é possível que eu tenha me apaixonado por uma ideia; racionalmente, investiguei a fundo, com a intenção de encontrar a desilusão necessária pra esquecer o devaneio todo - e o tiro saiu pela culatra, quando me deparei com algo realmente apaixonante justo por conter, além de toda a perfeição, os defeitos que humanizaram o personagem já criado.
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Mas tudo isso eu pensei e senti anteontem; hoje, como escreveu Bukowski: eu te amo, mas não sei o que fazer.

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Friozinho. Daqueles perfeitos. Você deita na rede, vinho em uma mão, celular na outra e no meio de tudo um vazio que não cabe na varanda. Fo...